Como fazer a transição do modelo linear para a economia circular?
Apoiar-se na otimização dos recursos, preservação do capital natural e minimização de impactos negativos faz parte deste percurso. Envolver todos os colaboradores é fundamental para a iniciativa ser bem-sucedida.
A transição para economia circular requer empenho de uma equipe multidisciplinar e se baseia em uma nova percepção no modo de conduzir os negócios para alcançar efetividade sistêmica e colher impactos positivos.
Sair da economia linear e ingressar na circular requer planejamento para que sua empresa alcance o tão esperado reaproveitamento integral dos resíduos, premissa básica do conceito, e chegue em um ponto máximo de prolongar a vida útil dos materiais para ter zero desperdício.
Não existe fórmula pronta para promover essa passagem, mas há como recorrer a renomadas organizações que estudam o tema e sempre se debruçam sobre ele. Segundo o relatório da Fundação Ellen MacArthur, Rumo à Economia Circular: O Racional de Negócio para Acelerar a Transição, é necessário percorrer um caminho com passos específicos, que se baseiam em princípios, o primeiro é “preservar e aprimorar o capital natural controlando estoques”, o que significa colocar em prática a desmaterialização de produto e de serviços sempre que necessário. O sistema circular torna a seleção dos recursos mais sensata e, sempre que possível, opta por tecnologias e processos com base em recursos renováveis ou que apresentam melhor desempenho.
Já o segundo momento consiste na otimização do rendimento dos recursos, ou seja, permitir a circulação de produtos e componentes e, assim, prolongar a sua vida útil. Por fim, no terceiro degrau dessa jornada, estimula-se a efetividade do sistema, que aponta e exclui as externalidades negativas.
Ao avançar nessa trajetória, a linha de chegada compensa pelos resultados, uma vez que evitar perdas é meta estabelecida desde o começo do percurso, eliminando, assim, o desperdício e promovendo o uso inteligente das matérias-primas, cuidando de seu ciclo biológico e, posteriormente, de sua evolução técnica.
Quando falamos dos materiais biológicos, estamos lidando com ativos atóxicos que podem retornar ao solo por meio de compostagem, por exemplo. Já os técnicos, como polímeros e ligas, estão destinados a serem ressignificados, o que impacta diretamente na redução do volume de energia demandado e otimizando a retenção de valor tanto dos próprios recursos naturais quanto econômicos.
Pensamento sistêmico considera pessoas, empresas e meio ambiente
Todo esse trajeto deve ser guiado pelo o que especialistas chamam de “pensamento sistêmico”, ou seja, quem conduz essa transformação deve levar em consideração todas as partes integrantes da cadeia envolvidas na economia circular: pessoas, empresas e meio ambiente, olhando para cada um de maneira particular e, ao mesmo tempo, contemplando os elementos de ligação entre elas. É preciso pensar na sustentabilidade do negócio sob a ótica de cada um desses agentes, colocando na equação quais os custos e ganhos reais de uma operação que se propõe a deixar para trás velhos hábitos.
O Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável traz sugestões que podem acelerar o processo e que contemplam as diferentes áreas que desempenham papel importante nesse curso de transformação nas empresas. Como cada área precisa ter uma direção clara do que fazer, a indicação é dividir tarefas por departamentos, como design, compras, produção e manufatura, vendas e gerenciamento de resíduos. Não são regras fixas, mas podem servir de modelo para diversas companhias se organizarem e encontrarem a melhor maneira de conduzir a transição para a economia circular.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) resume bem todo o processo no levantamento Economia Circular – Oportunidades e Desafios para a Indústria Brasileira, ao pontuar: “A transição dos modelos lineares para modelos circulares está associada a inovações no sistema de negócios com o objetivo de alcançar maior efetividade sistêmica e impactos positivos”.
O documento ainda traz um esquema que mostra, de maneira bem didática, as mudanças de pensamento que devem ocorrer:
Boticário: exemplo de inovação na reciclagem de tampas de perfumaria
O Grupo Boticário, em parceria com toda a cadeia, incluindo a Dow, mostra de que maneira conduzir um projeto inovador ligado à economia circular ao desenvolver um processo de reciclagem inédito para as tampas de perfumaria usando a resina SURLYN™, um material transparente e versátil.
Antes dessa iniciativa, por se tratar de uma matéria-prima muito complexa, empregá-la no processo de reciclagem ainda não era viável na indústria de cosméticos, apesar de já ser usada em outras categorias. SURLYN™ era categorizada como 7 na cadeia de reciclagem, ou seja, OUTROS e o fato de não existir uma cadeia para esse polímero dificulta sua reciclagem.
No centro desse projeto está a iniciativa Boti Recicla, fundamental para o sucesso da reciclagem de SURLYN™, e o maior programa de reciclagem do Brasil em pontos de coleta, que propõe logística reversa: uma das principais soluções para direcionar o volume de resíduos gerados diariamente para o lugar certo e evitar descarte inadequado.
Trata-se de um projeto que busca gerenciar os riscos ambientais e sociais decorrentes da operação da empresa. Por meio do Boti Recicla, O Boticário disponibiliza coletores em todas as suas lojas e os clientes são incentivados a descartar as embalagens dos produtos de maneira correta e sustentável, já que as mais de 3,7 mil lojas estão aptas a receber e direcionar o resíduo às cooperativas, responsáveis por selecionar e reciclar o material.
O Boti Recicla é fundamental para que a marca celebre resultados positivos com o projeto que envolve o uso da resina SURLYN™ e mostra a importância do papel de cada agente na cadeia de reciclagem para coletar bons frutos.
Economia circular e seus ganhos sociais, monetários e reputacionais
Muito se fala a respeito dos investimentos altos para realizar a transição para a economia circular, mas é importante destacar os ganhos obtidos com essa mudança também – sociais, ambientais, monetários e reputacionais.
Em relação à geração de emprego, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) relata na pesquisa World Employment and Social Outlook 2018 “que os esforços para combater as mudanças climáticas até 2030 irão gerar um saldo positivo de 18 milhões de empregos em todo o mundo”. De acordo com essa previsão, os novos postos de trabalho seriam nos setores de construção e manufatura na criação de novas fontes de energia. E a economia circular é uma grande aliada da eficiência energética. O relatório ainda mostra que, só na América Latina, a previsão é de um milhão de novas oportunidades de trabalho: um benefício social de grande relevância, especialmente, para países em desenvolvimento.
A respeito de ganhos financeiros, conforme explica a Fundação Ellen MacArthur, é possível obter lucro a partir da combinação do incremento da receita com as novas atividades da economia circular e a diminuição dos custos de produção por conta do uso mais produtivo dos insumos. O Fórum Econômico já referenciou o potencial de a circularidade aportar US$ 1 trilhão à economia global.
Soma-se a essas vantagens, o fortalecimento de reputação como uma empresa alinhada a tendências e atenta às necessidades de mercado, além de engajada com o impacto de suas ações. Acompanhar os ciclos evolutivos da economia pode levar a grandes feitos, como se tornar referência não só para os consumidores, mas também entre os pares.
Quer saber como implementar a economia circular no seu negócio?
Algumas instituições mostram o caminho e listam o que é necessário considerar durante o processo.
Ceguide
Criado pela World Business Council for Sustainable Development, o Circular Economy Practitioner Guide (CEPG) serve para ajudar empresas a implementarem diretrizes e engajar equipes na transição do modelo linear para o circular.