Avanço da economia circular na América Latina
Países latino-americanos precisam explorar o potencial da região para alavancar suas iniciativas em economia circular. Parcerias regionais e globais são o caminho para progredir.
A América Latina precisa atuar de maneira efetiva e explorar o potencial da indústria do plástico e da economia circular para que assuma, também, o protagonismo nesse ciclo evolutivo. A atuação regional trará ganhos sociais, ambientais e financeiros.
Projetos bem-sucedidos são frutos de processos e tecnologias que ultrapassam fronteiras. Neste contexto, a América Latina ascende de maneira promissora para o avanço da economia circular e mostra que, no mundo corporativo, a visão regional e/ou global é algo primordial quando se fala de um assunto que faz parte da pauta de empresas sérias e respeitadas ao redor do mundo, sem deixar de lado o olhar para a produção local, país a país, que leva em conta as particularidades de cada região.
Parcerias regionais e globais
Um exemplo do potencial e fortalecimento da interação regional é a coalizão de países latino-americanos e do Caribe, iniciativa do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), que “visa desenvolver visão e estratégia regional comum sobre economia circular para causar maior impacto, construir a cooperação e ter uma plataforma regional para o intercâmbio de boas práticas e suporte técnico”.
O grupo ganha reforço de peso com parceiros globais, como Fundação Ellen MacArthur, Fundação Konrad Adenauer, Fórum Econômico Mundial, Platform for Accelerating the Circular Economy (PACE, sigla em inglês) e a Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO, sigla em inglês), além do Climate Technology Centre and Network (CTCN, sigla em inglês), também da UNIDO.
A iniciativa começou a ganhar corpo em agosto de 2019 e tem feito avanços por meio de reuniões com seus membros.
A coalizão dá uma enorme demonstração do quanto a região é importante, dando aval às oportunidades a serem exploradas e garantindo apoio a 11 países, incluindo Brasil, Chile, México, Uruguai, Equador, República Dominicana, Cuba, El Salvador, Paraguai, Costa Rica e Antígua e Barbuda por meio de acesso à informação, embasamento para estabelecer qual é o patamar de evolução de economia circular em cada localidade e pensamento de longo prazo. Promove, ainda, a troca de experiências entre os signatários, ao incentivar a transferência de conhecimento e estimular o aprendizado a partir de sucessos e pontos de melhoria.
Aproveitamento dos recursos naturais na região
O artigo The position of Latin America in the context of circular economy, publicado no site da European Circular Construction Alliance, em 2017, reflete a respeito da equação potencialidade versus aproveitamento dos recursos naturais que os países latinos apresentam ainda nos dias de hoje: “A região não foi capaz de traduzir sua riqueza em desenvolvimento econômico em longo prazo, principalmente, devido à falta de políticas abrangentes de gestão de recursos e resíduos, além de ter uma atividade empresarial e de inovação em estágio inicial durante esse período”.
Nessa linha, o estudo Panorama da gestão de resíduos na América Latina e no Caribe, da ONU, publicado em 2014, faz projeções até 2070 e também aponta que há muito espaço para desenvolver a economia circular se as empresas tiverem as ferramentas necessárias para aproveitar as lacunas presentes na cadeia do descarte de lixo.
De acordo com a pesquisa, 541.000 t/dia de resíduos urbanos eram gerados na América Latina e no Caribe à época do levantamento, um número que aumentará em, pelo menos, 25% até 2050. Desse montante, 145.000 t/dia de resíduos tinham os lixões como destino, incluindo 17.000 t/dia de resíduos de plástico.
O cenário revela que existe muito território para ser explorado e as parcerias internacionais mostram ser o melhor caminho em direção a iniciativas de sucesso. Além disso, elas evidenciam que as fronteiras devem ser expandidas. No Brasil, por exemplo, a Universidade de São Paulo (USP) integra uma rede mundial de faculdades desde 2016, a Pioneer Universities, ao lado de seis instituições de ensino superior da Europa e dos EUA.
E, em 2019, o Chile foi o primeiro país latino-americano a ingressar na rede Plastics Pact, iniciativa global da Fundação Ellen MacArthur, que também lidera o Programa Circular Economy 100 (CE100), principal empreitada mundial que reúne empresas comprometidas a fomentar a economia circular e fazer a diferença. Governos e cidades dispostos à mudança também podem integrar essa rede. A USP e Natura fazem parte, apenas para citar alguns exemplos.
O potencial da economia circular para fortalecer a economia mundial é imenso. Conforme relatório de 2014 do Fórum Econômico Mundial, mais de US$ 1 trilhão poderia ser gerado à economia global, até 2025, e mais de 100.000 empregos poderiam ter sido criados até 2019 caso as empresas estivessem mais habilitadas para o desenvolvimento circular com o objetivo de aumentar as taxas de reciclagem, reutilização e remanufatura, o que “maximizaria o valor dos materiais quando os produtos se aproximam do fim de seu uso”.
As oportunidades são claras e os ganhos se mostram altos. Embora a região ainda precise enfrentar as dificuldades sociais e econômicas impostas, intensificadas pela pandemia, é possível traçar planos em longo prazo ao contar com redes colaborativas regionais e globais, também lideradas pela iniciativa privada, para ingressar na economia circular ou fortalecer práticas já existentes nesse sentido.
Acompanhe organizações mundiais
que se comprometem a promover ações que estimulem a economia circular na América Latina:
Climate and Technology Centre & Network
https://www.ctc-n.org/news/ctcn-latin-america-and-caribbean-establishing-regional-coalition-circular-economy
Fundação Ellen MacArthur
https://www.ellenmacarthurfoundation.org/our-work/regions/latin-america
Incentive redes regionais de economia circular
Podem ser universidades, centros de pesquisa, coletivos ou até mesmo institutos.
Banco Interamericano de Desenvolvimento
Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), criado para melhorar a qualidade de vida das populações na América Latina e Caribe.
Centro de Inovação e Economia Circular
Centro que atua na aceleração da transição para o modelo circular na América Latina.